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sexta-feira, 1 de maio de 2009

~ A última lágrima.

~ A avenida infestada de carros à sua volta não era nada; apenas algumas poucas luzes perdidas. Os sons se misturavam com as frases que cismava de repetir na própria cabeça, para si mesma; era preciso se convencer. O frio cinza-gelo dos vidros dos carros piorava cada vez mais; misturado com o ar gélido que ventava contra seu rosto, inchando seus cabelos; ela não se importava. Andava no meio da rua movimentada, não sem medo, mas sem a menor percepção das coisas; sentia o freio de carros próximos, mas não diminuía o passo, sequer virava os olhos; não que tivesse fé. Apenas indiferença. A raiva subia-lhe aos olhos, despencava-lhe o estômago; seguia, sem parar pra olhar pros lados, atravessando em faróis abertos; os braços nus arrepiados, as mãos dormentes; mas ela não sentia frio. Ela não via nada, não queria nada; apenas sentia o rastro de raiva que deixava em cada passo marcado no chão. Sua mente a elevava aos céus; naquele rosto no banco dos réus, uma expressão de sonho no rosto, era tudo que ela precisava; nada importava mais. Era a culpa, de alguém que tinha o seu amor; que pesava mais que chumbo em suas costas.. uma culpa que não era sua.. uma culpa que devia lhe causar repulsa, e não raiva de si mesma por não deixar de amar. Seus olhos se avermelharam, era a hora; sempre chegava a hora. Uma lágrima caiu. E aos céus mal iluminados ela prometeu que seria a última.
Sentiu a avenida brilhar aos seus pés, reverberando a emoção que sentia; não era felicidade, talvez apenas a energia que provinha da promessa que acabara de fazer... talvez a expressão exata da vontade que sentia, de afundar naquele infinito do céu e espalhar lá de cima o amor que transbordava em suas veias em forma de luz.
Quem sabe assim ele não acabasse de vez? Quem sabe ele não se esvaísse em suas promessas? Ela sabia que sim, ele iria; deixaria suas cicatrizes fundas, mas iria... e ela sorriria e cantaria pra quem quisesse ouvir, aquela música que tanto sonhou em realizar; 'ali onde eu chorei, qualquer um chorava; dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava'.
Quem sabe assim, ele já não acabou de vez?



Angel (alguém ou até mesmo mninguém) - 01/05/2009 - 16h07

2 comentários:

PsyLock disse...

Consegui sentir cada pedaço do texto, lindo...
te adoro

Elton Alves do Nascimento disse...

Essa postagem está com uam beleza no estilo das primeiras, e sabe? Depois da metade dela a gente começa a se sentir dentro dela...